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José Manuel Cerqueira Afonso-1929- 23 de Fevereiro de 1987

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José Manuel Cerqueira Afonso-1929- 23 de Fevereiro de 1987 Empty José Manuel Cerqueira Afonso-1929- 23 de Fevereiro de 1987

Mensagem  PapaNJam Seg Jun 23, 2008 8:07 am

Em 1974, menos de um mês antes do 25 de Abril, a Casa da Imprensa, a pretexto da entrega dos seus prémios anuais, organizou um espectáculo, no Coliseu dos Recreios, que reuniu a facção da música portuguesa então conhecida por «os baladeiros». Foi perante uma sala completamente cheia que, depois de Adriano Correia de Oliveira, José Jorge Letria, Manuel Freire, José Barata Moura, Fernando Tordo, o poeta José Carlos Ary dos Santos e outros cantores dessa geração, actuou José Afonso. O final foi apoteótico, com Afonso, os outros artistas e o público entoando «Grândola, Vila Morena», um dos poucos temas do seu reportório sobrevivente do raide da Comissão de Censura Prévia, que ameaçara os organizadores de imediata interrupção do espectáculo se fossem interpretados, entre outros, «Venham Mais Cinco», «Menina dos Olhos Tristes», «A Morte Saiu à Rua» e «Gastão Era Perfeito». No Coliseu, nessa noite de 29 de Março cheio da plateia até ao «galinheiro», entre o público decerto não mais que os agentes da PIDE apoiavam o governo de Marcello Caetano. Alguns espectadores, aliás – veio a saber-se depois –, conspiravam mesmo muito activamente contra o regime no clandestino Movimento das Forças Armadas. Diz a lenda que foi ali, ou pelo menos por sugestão dos militares ali presentes que «Grândola, Vila Morena» se tornou na mais conhecida das senhas da revolução.

José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos nasceu a 2 de Agosto de 1929, em Aveiro. Em 1945, andava no 5.º ano do liceu, em Coimbra, começa a ser conhecido entre os estudantes pelas suas serenatas. É assim, pela via do romantismo, que começa a frequentar o círculo boémio da universidade onde germinava também uma nova geração de intérpretes dos tradicionais fados de Coimbra, viaja com o Orfeão e com a Tuna Académica e ainda joga futebol na Associação Académica de Coimbra.
Em 1953 são editados os seus primeiros discos: dois 78 rotações com fados de Coimbra, editados pela Alvorada, dos quais não existem hoje exemplares. Nos anos seguintes grava esparsamente, faz o serviço militar, trabalha como professor, actua em colectividades populares e viaja em digressão com a Tuna Académica, integrando o Conjunto Ligeiro ou um grupo de fados e guitarras, por Angola, Suíça, Alemanha e Suécia acompanhado por Adriano Correia de Oliveira, José Niza, Jorge Godinho, Durval Moreirinhas e a fadista lisboeta Esmeralda Amoedo. Em 1964 é editado o seu primeiro álbum, «Baladas e Canções», e três anos depois assina contrato discográfico com a Orfeu, para quem grava quase toda a sua obra.
Chegado a 1968 José Afonso é expulso do ensino. Sem essa fonte de rendimento e vivendo em grandes dificuldades económicas, o cantor dá explicações e concentra-se no seu trabalho criativo (até porque o seu contrato discográfico o obriga a gravar um álbum por ano contra o vencimento mensal de 15 contos). Nesse ano é publicado «Cantares do Andarilho», com o guitarrista Rui Pato.
A Primavera marcelista, como ficou conhecido o início da governação de Marcello Caetano, em 1969, cria perspectivas de organização aos movimentos sindical e estudantil em que Afonso participa já activamente. Essa actividade política, porém, não o impede de criar e, em consequência da edição de «Traz Outro Amigo Também», recebe o Prémio de Honra da Casa da Imprensa pela «alta qualidade da sua obra artística como autor e intérprete e pela decisiva influência que exerce em todo o movimento de renovação da música ligeira portuguesa».
«Cantigas de Maio», o seu disco mais conhecido, é posto à venda no Natal de 1971, prosseguindo um dos períodos mais criativos da sua carreira artística, que nem a passagem pela prisão interrompe ou esmorece, com a publicação nos anos seguintes de «Eu Vou Ser Como a Toupeira», «Venham Mais Cinco» e, já em 1974, «Coro dos Tribunais».
Os anos de 1974 a 1975, isto é, os anos da ascensão e queda da revolução de Abril, têm em José Afonso um cantor para quase todas as ocasiões. Em 1977, na ressaca do PREC, desapontado com o caminho do país, grava «Com as Minhas Tamanquinhas». É com este álbum que se inicia a última fase da sua carreira, que os especialistas na sua obra consideram a «fase cronista», prosseguida com «Enquanto Há Força», «Fura Fura», «Com se Fora Seu Filho» e, em 1985, «Galinhas do Mato». Neste disco final, José Afonso já francamente doente, entrega a interpretação de alguns temas a Luís Represas, Helena Vieira, Janita Salomé, José Mário Branco, Né Ladeiras e Catarina e Marta Salomé, sendo os arranjos musicais de Júlio Pereira e Fausto.
José Afonso morreu na madrugada do dia 23 de Fevereiro de 1987, no Hospital de Setúbal, vítima de esclerose lateral amiotrófica diagnosticada em 1982. O funeral, que se realizou no dia seguinte, foi a demonstração final da grande estima e carinho que rodeavam José Afonso e a sua obra: ao longo das duas horas que durou o desfile de pesar e homenagem a percorrer menos de quilómetro e meio, trinta mil pessoas acompanharam a urna envolvida por um pano vermelho, sem qualquer símbolo, como pedira o cantor.

DISCOGRAFIA

Balada do Outono (1960, EP)
Baladas de Coimbra (1962, EP)
Ó Vila de Olhão (1964, single)
Cantares de José Afonso (1964, EP)
Baladas e Canções (1964)
Cantares de Andarilho (1968)
Contos Velhos Rumos Novos (1969)
Traz Outro Amigo Também (1970)
Cantigas do Maio (1971)
Eu Vou Ser Como a Toupeira (1972)
Venham Mais Cinco (1973)
Coro dos Tribunais (1974)
Com as Minhas Tamanquinhas (1976)
Enquanto Há Força (1978)
Fura Fura (1979)
Ao Vivo no Coliseu (1983)
Como Se Fora Seu Filho (1983)
Galinhas do Mato (1985)

PapaNJam

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