Lou Reed em Lisboa
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Lou Reed em Lisboa
Semana de gigantes em Lisboa. Depois de Bob Dylan e Neil Young, Lou Reed maravilhou o Campo Pequeno.
Semana séria, esta: com Bob Dylan e Neil Young vistos num espaço de poucos dias, acrescentar Lou Reed à lista com um espectáculo especial em que revisita o seminal Berlin só podia ser uma boa ideia.
Com quase três dezenas de pessoas em palco, um cenário desenhado por Julian Schnabel e direcção musical de Bob Ezrin - o produtor original de Berlin - e do grande Hal Willner (o homem por detrás de excelentes homenagens musicais a Walt Disney, Kurt Weil ou Leonard Cohen), este concerto no Campo Pequeno era uma aposta ganha à partida.
O actual marido de Laurie Anderson sempre foi um verdadeiro maverick e por diversas vezes desafiou os pressupostos da indústria: com o álbum Metal Machine Music (um mar de feedback espalhado por 4 lados de vinil) quase cometeu suicídio artístico, mas Berlin não foi um passo muito melhor.
Depois da edição de Transformer , em 1972, Lou descobriu a consagração ao lado de David Bowie e assinou uma série de canções luminosas que imediatamente cimentaram o seu apelo comercial. Mas Berlin , editado no ano seguinte, era feito de outra massa: contava a história de uma paixão entre um casal de junkies e explorava alguns dos lados mais obscuros da condição humana. As críticas não foram as melhores, pois à receita pop de Transformer Reed fez suceder arranjos complicados, com dimensão orquestral e uma atmosfera densa e negra. Resultado: estas canções raramente pisaram o palco. Até há pouco tempo...
Como o próprio Hal Willner fez questão de explicar, na sua introdução ao concerto onde também aproveitou para pedir que não se usassem flashes ou se fumasse, esta foi a 43ª apresentação de Berlin , desta vez com a colaboração do New London's Children Choir (12 vozes angelicais em palco) e de elementos da London Metropolitan Orchestra (3 cordas e quatro metais). Acrescentem-se verdadeiras lendas com colaborações diversas na carreira de Lou como Mike Rathke (guitarra), Fernando Saunders (baixo) ou Rob Wassermann e obtém-se um irrecusável conjunto de argumentos.
O Campo Pequeno estava composto e mostrou-se adequado a este tipo de eventos. O público, no entanto, não encaixava facilmente num perfil pré-concebido embora predominasse uma faixa etária mais... digamos, "madura".
Antes de o espectáculo começar, um enorme pano branco cobria o fundo do palco e recebia a projecção de imagens de ondas do mar enquanto o tema "Like a Possum" do álbum Ecstasy de 2000 se ia repetindo nos seus 18 minutos de electricidade livre. Bom prenúncio para o que se seguiu.
Com uma breve introdução feita a partir do último tema de Berlin , "Sad Song", que deu imediatamente para perceber que a adição de um afinadíssimo coro infantil em palco foi um golpe inteligente, o concerto seguiu escrupulosamente o alinhamento desse álbum, exceptuando um interlúdio em que se homenageou James Brown com citações de "Sex Machine" e até "Say it Loud, I'm Black and I'm Proud". Não exactamente o desvio que se esperaria tratando-se de Lou Reed e de Berlin , mas o groove metronómico servido pelo enorme (em todos os sentidos...) baterista Tony "Thunder" Smith encaixou na perfeição na voz de Lou, em plena forma e com aquele toque de monotonia que só lhe confere classe.
O público estava rendido desde o princípio, pois claro: logo após a interpretação de "Men of Good Fortune", que serviu de pretexto à projecção de fotos de soldados de várias épocas e guerras, o público levantou-se e Lou, emocionado, ergueu a guitarra no ar para a foto da noite!
Os arranjos de Hal Willner deram, como seria de esperar, nova vida a estas canções, transportando-as para uma dimensão mais sobrenatural - no original, as canções são muito dominadas pelas sombras, mas Willner introduziu rasgos de luz, nomeadamente usando o poder celestial das vozes das crianças e as cordas para dar ainda maior espessura dramática às canções. Tudo perfeito.
"Sad Song", última faixa de Berlin , adquiriu no final o estatuto de mantra rock, com a electricidade a coroar uma viagem ao passado perfeitamente ancorada no presente.
Na boca de palco, um Lou visivelmente bem disposto apresentou todos os músicos e até cantou os parabéns ao violoncelista da London Metropolitan Orchestra que fazia anos. Depois de alguns longos minutos de espera, o regresso fez-se com "Satellite of Love", numa estrondosa versão que incluiu vocais de Fernando Saunders, uma enorme volta de Lou e um regresso em grande pelas vozes do coro infantil. Fantástico.
"Rock and Roll", original dos Velvet Underground que teve sabor a bónus para os que queriam o Lou mais roqueiro, e "Power of the Heart" - tema escrito certamente em frente ao espelho, de coração, literalmente, nas mãos - encerraram um belo concerto de um Lou Reed que está a saber lidar com o avanço da idade. Parabéns Lou.
Semana séria, esta: com Bob Dylan e Neil Young vistos num espaço de poucos dias, acrescentar Lou Reed à lista com um espectáculo especial em que revisita o seminal Berlin só podia ser uma boa ideia.
Com quase três dezenas de pessoas em palco, um cenário desenhado por Julian Schnabel e direcção musical de Bob Ezrin - o produtor original de Berlin - e do grande Hal Willner (o homem por detrás de excelentes homenagens musicais a Walt Disney, Kurt Weil ou Leonard Cohen), este concerto no Campo Pequeno era uma aposta ganha à partida.
O actual marido de Laurie Anderson sempre foi um verdadeiro maverick e por diversas vezes desafiou os pressupostos da indústria: com o álbum Metal Machine Music (um mar de feedback espalhado por 4 lados de vinil) quase cometeu suicídio artístico, mas Berlin não foi um passo muito melhor.
Depois da edição de Transformer , em 1972, Lou descobriu a consagração ao lado de David Bowie e assinou uma série de canções luminosas que imediatamente cimentaram o seu apelo comercial. Mas Berlin , editado no ano seguinte, era feito de outra massa: contava a história de uma paixão entre um casal de junkies e explorava alguns dos lados mais obscuros da condição humana. As críticas não foram as melhores, pois à receita pop de Transformer Reed fez suceder arranjos complicados, com dimensão orquestral e uma atmosfera densa e negra. Resultado: estas canções raramente pisaram o palco. Até há pouco tempo...
Como o próprio Hal Willner fez questão de explicar, na sua introdução ao concerto onde também aproveitou para pedir que não se usassem flashes ou se fumasse, esta foi a 43ª apresentação de Berlin , desta vez com a colaboração do New London's Children Choir (12 vozes angelicais em palco) e de elementos da London Metropolitan Orchestra (3 cordas e quatro metais). Acrescentem-se verdadeiras lendas com colaborações diversas na carreira de Lou como Mike Rathke (guitarra), Fernando Saunders (baixo) ou Rob Wassermann e obtém-se um irrecusável conjunto de argumentos.
O Campo Pequeno estava composto e mostrou-se adequado a este tipo de eventos. O público, no entanto, não encaixava facilmente num perfil pré-concebido embora predominasse uma faixa etária mais... digamos, "madura".
Antes de o espectáculo começar, um enorme pano branco cobria o fundo do palco e recebia a projecção de imagens de ondas do mar enquanto o tema "Like a Possum" do álbum Ecstasy de 2000 se ia repetindo nos seus 18 minutos de electricidade livre. Bom prenúncio para o que se seguiu.
Com uma breve introdução feita a partir do último tema de Berlin , "Sad Song", que deu imediatamente para perceber que a adição de um afinadíssimo coro infantil em palco foi um golpe inteligente, o concerto seguiu escrupulosamente o alinhamento desse álbum, exceptuando um interlúdio em que se homenageou James Brown com citações de "Sex Machine" e até "Say it Loud, I'm Black and I'm Proud". Não exactamente o desvio que se esperaria tratando-se de Lou Reed e de Berlin , mas o groove metronómico servido pelo enorme (em todos os sentidos...) baterista Tony "Thunder" Smith encaixou na perfeição na voz de Lou, em plena forma e com aquele toque de monotonia que só lhe confere classe.
O público estava rendido desde o princípio, pois claro: logo após a interpretação de "Men of Good Fortune", que serviu de pretexto à projecção de fotos de soldados de várias épocas e guerras, o público levantou-se e Lou, emocionado, ergueu a guitarra no ar para a foto da noite!
Os arranjos de Hal Willner deram, como seria de esperar, nova vida a estas canções, transportando-as para uma dimensão mais sobrenatural - no original, as canções são muito dominadas pelas sombras, mas Willner introduziu rasgos de luz, nomeadamente usando o poder celestial das vozes das crianças e as cordas para dar ainda maior espessura dramática às canções. Tudo perfeito.
"Sad Song", última faixa de Berlin , adquiriu no final o estatuto de mantra rock, com a electricidade a coroar uma viagem ao passado perfeitamente ancorada no presente.
Na boca de palco, um Lou visivelmente bem disposto apresentou todos os músicos e até cantou os parabéns ao violoncelista da London Metropolitan Orchestra que fazia anos. Depois de alguns longos minutos de espera, o regresso fez-se com "Satellite of Love", numa estrondosa versão que incluiu vocais de Fernando Saunders, uma enorme volta de Lou e um regresso em grande pelas vozes do coro infantil. Fantástico.
"Rock and Roll", original dos Velvet Underground que teve sabor a bónus para os que queriam o Lou mais roqueiro, e "Power of the Heart" - tema escrito certamente em frente ao espelho, de coração, literalmente, nas mãos - encerraram um belo concerto de um Lou Reed que está a saber lidar com o avanço da idade. Parabéns Lou.
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