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Paredes de Coura: primeiro dia

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Mensagem  PapaNJam Sáb Ago 02, 2008 12:14 am

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18h50: A edição de 2008 de Paredes de Coura está prestes a arrancar. A agitação centra-se, por enquanto, no exterior do recinto, com muitas centenas de espectadores a circular na vila minhota, enquanto as portas não abrem.

Entre esta turba bem comportada encontram-se muitos espanhóis - aliás, algumas operadoras móveis saúdam os seus clientes com um "bem-vindo a Espanha", mal entramos em Paredes de Coura - e muitos, muitos espectadores de tenra idade.

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Apesar de também os veteranos marcarem presença, por enquanto a maior "mancha" de público é, diríamos a olho nu, sub-17. Isto é: rapaziada que não era nascida no apogeu do "prato principal" desta noite, os SEX PISTOLS .

É dos punks cinquentões o maior número de t-shirts, mas também se vêem, na verdejante paisagem de Paredes de Coura, muitos fãs dos Led Zeppelin ou Ramones.

No interior do recinto, tudo a postos para receber a primeira banda do festival: os BUNNYRANCH , que a BLITZ já viu a fazer o soundcheck.

Quanto a uma das mais assíduas presenças de Paredes de Coura, A CHUVA , parece por enquanto ter dado tréguas aos festivaleiros, depois de um mini-dilúvio que, esta manhã, assustou a organização.
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19h30 - Não podia ser mais pontual o arranque do palco principal em Paredes de Coura. Os BUNNYRANCH começaram a tocar exactamente à hora prevista e segundos após uma conferência de imprensa à qual a organização preferiu chamar "comité de boas vindas".

Além de João Carvalho, da Ritmos, e de Álvaro Covões, da Everything Is New, estiveram presentes o presidente da câmara de Paredes de Coura e os X-Wife, uma das bandas que irão tocar esta noite no anfiteatro natural do Alto Minho.

Enquanto na barraca do karaoke se ouvia "O Bacalhau Quer Alho", João Vieira, dos X-WIFE , prometeu para hoje um espectáculo "animado" e com algumas surpresas, elogiando ainda a qualidade da programação de Paredes de Coura, mais atenta "à qualidade do que aos números".

Quanto ao autarca de Paredes de Coura, António Pereira Júnior convidou todos os interessados a visitar "a jóia da coroa" da localidade, a paisagem protegida do Corno de Bico. Amanhã, pelas 11h00, sai da Câmara Municipal uma camioneta com destino a este centro de educação ambiental.
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20h10 - Os BUNNYRANCH dão por concluída uma actuação vitoriosa.



Um dos quartetos mais "cool" de Portugal apresentou-se perante uma pequena multidão concentrada frente ao palco; nas encostas do recinto vêem-se já muitos punks - de crista e tudo - dispostos a guardar lugar para o grande concerto de logo à noite.

Ao nosso lado, um grupo de amigos brinca com o facto de estender no chão, para depois se sentar, uma mantinha aos quadrados. "É mesmo à velho", exclamam. Mas com o fresquinho que já se vai sentindo em Paredes de Coura, o velho cobertor poderá vir a ser mais útil do que parece...

Quanto aos Bunnyranch, ofereceram-se ao público, como é habitual, numa só fileira de voz e bateria (o imparável Kaló, mistura de animador circense e personagem dos Sopranos), guitarra, baixo e teclas, essenciais para materializar em som o groove da banda.

O público reagiu com entusiasmo às canções, chegando a entoar "can't stop the 'ranch", a pedido da banda, e a acompanhar alguns temas com palminhas. Os ânimos arrefereceram um pouco com o próximo single dos Bunnyranch, "Stand By Me", mas "Top Top To The Top" repôs a ordem natural de um espectáculo dos conimbricenses.

21h00 - "Que tal é que está a soar desse lado?", pergunta João Vieira sensivelmente a meio do concerto dos X-WIFE . Poucas respostas se ouviram, mas a banda do Porto, pela primeira vez no palco principal de Paredes de Coura, estava realmente a soar bem.
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À tarde, na conferência de imprensa que abriu a "jornada", João Vieira prometera um concerto "animado" e com algumas surpresas. A promessa foi cumprida: Raquel Ralha, dos Wraygunn, apareceu para cantar no novo single, "On The Radio", e tanto os inéditos como os velhos conhecidos do público - "Eno", "Ping-Pong" ou "Rockin' Rio", a fechar - atacaram com força o final de tarde courense.

Pela amostra do novo disco, a sair em Setembro, Are You Ready For The Blackout não deverá mudar dramaticamente a "fórmula" dos X-Wife mas poderá surpreender pela fuga de João Vieira ao habitual falsete, ou por alguns temas mais contidos.

É o caso de "Fireworks", que João Vieira apresentou como uma das suas músicas favoritas e cujo refrão traz alguma bem-vinda nostalgia à música dos X-Wife.

No geral, porém, a toada foi eléctrica e o público não se fez rogado, chegando alguns espectadores mais entusiasmados a fazer mosh e aterrar no fosso dos fotógrafos.

O prémio de originalidade terá de ir, ainda assim, para os dois rapazes que dançavam à Ian Curtis e interpelavam os demais espectadores... com a cara pintada à Joker, versão Heath Ledger . Depois das comparações da personagem a Johnny Rotten, parece estar garantido o lugar deste Joker no firmamento pop.

22h40 - Os BELLRAYS despedem-se de Paredes de Coura onde aterraram, convenhamos, de forma algo inesperada.


Nada contra o vozeirão soul de Lisa Kekaula, uma "big black mamma" imponente, no alto dos seus saltos altos e no brilho de um mini-vestido lilás com lantejoulas.

Mas, ao contrário de outras bandas de soul-rock (filiação que os californianos afirmaram repetidas vezes ser a sua), os Bellrays não têm boleia de um qualquer êxito, nem um culto da personalidade que os preceda.

Estranha, pois, ver esta banda - já veterana, é certo - a tocar a seguir aos X-Wife e aos Bunnyranch, apesar de tudo mais conhecidos do público português do que os autores de Hard Sweet and Sticky .

Não se pode, porém, negar empenho aos Bellrays, que entre o calor da voz de Kekaula e os riffs de Bob Vennum, metade garage-rock metade sulismo americano, fizeram os possíveis para agarrar o público, já muito numeroso. Nas poderosas "Blues For Godzilla" ou "Testify", foram bem sucedidos.

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00h15 - A poucos minutos da estreia em Portugal dos Sex Pistols, os MANDO DIAO pagam a dívida que tinham, desde o ano passado, para com o público nacional.
A banda esteve confirmada no cartaz de Paredes de Coura 2007, mas acabaria por cancelar, para desconsolo de muitos fãs. Este ano, não só vieram como deram um concerto bastante recomendável.


Os Mando Diao vieram da Suécia, com amor


Nota-se que, para esta primeira noite de festival, a organização de Paredes de Coura quis convidar bandas que, à semelhança dos cabeças de cartaz, tenham algum sangue punk. Os Mando Diao, suecos como os Hives ou os Sounds, não fogem a essa matriz mas juntam-lhe simpáticas doses de humor e teatralidade.
"My name is Gustaf Norén and this is Sweden, baby! Sweden!", grita a certa altura o vocalista dos Mando Diao. À escandinava introdução segue-se um épico digno de Ennio Morricone.

Há muito de rock mariachi na música dos Mando Diao (os trompetes, saxofones, maracas e pandeiretas em palco salientam esse sabor "caliente"), mas também uma paixão pela orquestração e pelas melodias de voz e guitarra, por vezes reminiscentes dos Libertines.
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E o tal humor - hiperbólico, apaixonado por si mesmo - que os suecos parecem ter patenteado. "Na nossa terra, Borlände, há duas coisas: uma grande fábrica de aço e os Mando Diao!", anunciam eles com pompa e circunstância.

Junte-se a isto uma aparência muito acima da média e tem-se um concerto bem sucedido. "TV & Me", "The Dream Is Over" ou "Song For Aberdeen" mantiveram os ânimos bem acesos na contagem decrescente para os Sex Pistols.
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Portugal esperou 31 anos para ouvir Johnny Rotten dizer "obrigado". Valeu a pena?

31 anos é muito tempo. Tempo suficiente, pelo menos, para que o contexto de uma banda ou de um fenómeno cultural se altere significativamente.

Já todos tínhamos lido mil vezes que, no primeiro regresso aos concertos, os Sex Pistols assumiram que tinham voltado pelo dinheiro, pelo "filthy lucre". E todos sabemos que desde então - desde 1996, portanto - a motivação dos ingleses não mudou drasticamente. Johnny Rotten até já aproveitou para arranjar os dentes.

Não deixa, no entanto, de causar alguma estranheza que o primeiro concerto dos Sex Pistols em Portugal aconteça num ambiente "controlado". Lista de fotógrafos autorizados a tirar o retrato a Lydon, Glen Matlock, Steve Jones e Paul Cook; roadies deveras preocupados com o feedback de um dos microfones e algumas famílias entre a multidão que, pela meia-noite e meia, enchia o anfiteatro natural de Paredes de Coura.


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O arranque do concerto não esclareceu as dúvidas de quem não sabia que Sex Pistols eram estes do Verão de 2008, mais de 30 anos volvidos sobre a pedrada no charco Never Mind The Bollocks, Here's The Sex Pistols .

"Good fucking evening", começou por saudar Johnny Rotten, descansando todos aqueles que compraram bilhete para ver punks a sério. Mas logo a seguir completa, de mão no peito: "heart, love!". Podia ser um hippie a falar. Alvo de todas as objectivas, inclusive da da BLITZ, Johnny Rotten movimenta-se na beira do palco com movimentos mínimos, dedinhos indicadores espetados no ar como se dançasse no baile da terrinha. O cabelo continua espetado e os olhos arregalados, mas as calças vermelhas aos quadrados fazem lembrar uma das mais estranhas modas deste ano em Paredes de Coura: passear de calças de pijama.

"Pretty Vacant" abre, como estava previsto, o concerto, e o coro certeiro da multidão, bem como dezenas de copos atirados ao ar em plena euforia não deixam margem para dúvidas: Paredes de Coura está com os Sex Pistols. Mas os Sex Pistols, estarão com Paredes de Coura?

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Desde queixas sobre o som - "your sound is fucking shit" - a monólogos repetitivos e algo absurdos, como os contínuos louvores a Alá, a postura de Johnny Rotten em palco foi desconcertante. A banda percebeu que o público não sabia muito bem o que pensar: "Somos assim tão maus?", perguntou Rotten após uma "Submission" a meio gás. A resposta foi ambígua.

Houve, é claro, momentos de natural regozijo: em "Holiday In The Sun" Rotten não se escusou a referir o sol de Portugal e a banda esmerou-se na rendição deste clássico; "No Fun" deu origem a uma das maiores sessões de mosh do festival até agora e "God Save The Queen" fez - ainda faz - todo o sentido nos seus cuspidos três minutos de raiva. Braços e cervejas no ar deram razão aos Sex Pistols, uns quantos corpos se seguiram, projectando-se no ar ao som de "no futuuure...".



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Com o primeiro encore chegaram "Bodies" ("o vosso entusiasmo é ensurdecedor", troçou Rotten) e o momento mais insólito do concerto: três espectadores conseguem invadir o palco e, ao invés de os congratular/desfazer/mastigar, Johnny Rotten dá-lhes um raspanete e ameaça que, sem respeito, não continua a fazer o seu trabalho. Apesar do choque (Rotten, o moralista?!), ainda houve presença de espírito para festejar "Anarchy In The UK", naturalmente o ponto alto do espectáculo e aquele que deveria ter sido o seu desfecho. Mas os Sex Pistols voltariam ainda para um segundo encore, com "Silver Machine", dos Hawkwind, e "Roadrunner", dos Modern Lovers, quebrando de certa forma o ritmo de um concerto já de si algo desequilibrado.

No fim, ouvimos de tudo: desde fãs desolados por a banda ter tocado de forma demasiado lenta a espectadores tão combalidos com a despedida que já nem queriam ficar para o after-hours, ameaçando numa espécie de birra: "Vou já é para a tenda!". Não consta, ainda assim, que algum se tenha arrependido de ver os Sex Pistols em 2008. Isso já ninguém lhes tira

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